Carne faz mal à saúde?

Tempos estranhos, os nossos.

Buscar e divulgar a verdade está cada vez mais perigoso. 

Quem não é do ramo imagina que uma pergunta tão simples como a do título terá uma resposta simples. Engana-se porque não sabe a guerra que há nos bastidores. 

O motivo de você entender o que está ocorrendo é que isto afeta sua vida, suas decisões e sua saúde!

É uma disputa por almas, por consumidores, por mercado. 

Envolve uso de robôs, lobbies, compra de pareceres, ações judiciais, compra de pesquisas e pesquisadores, instituições de fachada, calúnias, ameaças e divulgação massiva na mídia (fake news). 

É um jogo pesado. 

Mas você precisa conhecê-lo.

Ou será enganado. 

Porém, antes vamos responder a pergunta do título.

Pesquisadores da NutriReCS (os 5 autores e seus colaboradores) coletaram mais de uma dezena de estudos clínicos randomizados de excelente qualidade metodológica, com cerca de 54.000 participantes e publicaram na prestigiada revista científica Annals of Internal Medicine de 19/11/2019.

São cinco revisões sistemáticas e metanálises sobre carne vermelha e mortalidade por todas as causas, incluindo mortalidade por doenças cardiovasculares, desfechos metabólicos, câncer, derrame e diabetes. 

Esta super-revisão científica com ensaios clínicos randomizados concluiu que o consumo de carne vermelha NÃO aumenta o risco de doença cardiovascular, câncer ou diabetes. 

Saliento que os estudos clínicos randomizados são o padrão áureo em pesquisa científica porque estabelecem relações de causa e efeito. 

Anteriormente, os estudos observacionais ou epidemiológicos não evidenciaram risco em se consumir carne vermelha, nem demonstraram consequências negativas para a saúde humana. Que, se existissem, seriam mínimos ou questionáveis, pois este tipo de estudo tem muitos fatores de confusão que prejudicam o julgamento de seus resultados, nem permite que se estabeleçam causas, apenas associações. 

Esta é a notícia e a resposta simples à pergunta inicial.

Entretanto, é bom que você tenha conhecimento das peripécias envolvidas antes e após a publicação destes artigos. 

O caso é uma verdadeira novela. Uma trama insólita. 

A importância de entender este enredo é que ele forma um padrão a muitas pesquisas científicas. 

 

PROCEDIMENTOS INCOMUNS (NEM TÃO INCOMUNS ASSIM)

EM PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS

David Katz, Walter Willett e Frank Hu tentaram impedir a publicação dos artigos científicos citados acima ANTES DE SUA PUBLICAÇÃO.

É muito ineditismo tanta pressão por causa de artigos de revisão médica.

Não era sobre questões técnicas ou científicas. 

Cito a seguir excerto integral do artigo de 15/01/2020 do JAMA, a revisão da Associação Médica Americana: 

A editora-chefe da Annals, Christine Laine, MD, MPH, viu sua caixa de entrada inundada com cerca de 2000 e-mails em meia hora,  a maioria trazia a mesma mensagem, aparentemente gerada por robôs. A caixa de entrada de Laine teve que ser fechada, ela disse. Não apenas o volume sem precedentes, em sua década à frente do respeitado periódico, como o tom particularmente ácido dos e-mails”. 

 

QUEM SÃO OS PROTAGONISTAS

Walter Willett e Frank Hu são ambos médicos, PhDs, pesquisadores em Nutrição na Universidade de Harvard e membros do conselho diretor da THI. 

True Health Iniciative (THI, Iniciativa para Saúde de Verdade) é uma associação sem fins lucrativos, fundada e chefiada pelo médico David Katz.

 

POR QUÊ BARRAR ARTIGOS CIENTÍFICOS?

Mais adiante, no mesmo artigo do JAMA (citação textual):

“Katz e diversos membros do conselho da THI tem numerosos laços com a indústria. A diferença é que seus vínculos são principalmente com empresas e organizações que lucram se as pessoas comerem menos carne vermelha e seguirem uma dieta de base vegetal. Ao contrário da indústria de carne bovina, essas entidades são cercadas por uma aura de saúde e bem-estar, embora isso não seja necessariamente baseado em evidências”. 

Impedir artigos científicos de serem publicados violou a política de embargo da revista. 

O que ocorreu foi uma violação grave na lei. 

A denúncia não para aqui e cito o mesmo artigo:

“Quatro dia antes da publicação dos artigos, Katz e 11 membros do THI enviaram uma carta a Laine (a editora) que impedisse preventivamente a publicação aguardando uma revisão adicional da THI”.

Assinam a carta Hu e Willett pelo THI e Neil Barnard, médico e presidente do Comitê de Médicos para Medicina Responsável (em inglês PCRM), Richard Carmona, David Jenkins da Universidade de Toronto e Dariush Mozaffarian, reitor de Universidade de Tufts. 

O PCRM tem como missão “salvar vidas humanas e animais através de dietas baseadas em plantas e pesquisas científicas éticas e eficazes. Apesar do nome Comitê de Médicos, em seu site descobrimos que menos de 10% de seus membros são médicos. 

Pois bem, esta instituição solicitou ao FTC (Federal Trade Commission, Comissão de Comércio Federal) “para corrigir declarações falsas sobre o consumo de carne vermelha e processada divulgadas pelo Annals of Internal Medicine”. (mesmo artigo acima, textual).

As contravenções continuaram:.

 “Três semanas depois  o PCRM pediu ao promotor da Filadélfia, onde fica a editoria do Annals, “para investigar possíveis perigos imprudentes” resultantes da publicação de documentos e recomendações”.

“Outro ataque veio durante uma recente conferência de cardiologia preventiva de um dia, na qual metade das apresentações foram sobre dietas baseadas em plantas. Durante sua fala, Willett mostrou um slide intitulado “Desinformação” e culpou várias organizações e indivíduos’. 

No final do mesmo artigo Laine afirma:

“Não devemos deixar as pessoas com medo de ter um ataque cardíaco ou câncer de cólon por comerem carne vermelha”.

 

Ouso afirmar (baseado em evidências científicas) que carne vermelha faz muito bem à saúde.

E divulgar a verdade faz bem à saúde e à nossa consciência.

 

 

Notas: 

  1. A NutriRECS reúne acadêmicos que trabalham com medicina baseada em evidências e tem entre seus expoentes o professor Gordon Guyatt da Universidade McMaster em Hamilton, Ontário, Canadá. Ao saber do ocorrido em entrevista à Canadian Broadcasting Company disse que o ocorrido era “completamente previsível”. 
  2. A THI tem como parceiros não lucrativos a entidade #NoBeef, a Olive Wellness Institute e o Projeto Plantrician, todos apoiadores vigorosos do vegetarianismo. São parceiros com fins lucrativos a Wholesome Goodness (batatas fritas, granola e barras de cereais desenvolvidos sob orientação do Dr David Katz) e a Quorn (produtos fermentados de fungos ricos em proteína na forma de massa).
  3. A THI também fornece bolsas de estudo e pesquisa patrocinadas nos Estados Unidos pela Pulse Research Network, Almond Board da Califórnia, o Conselho Internacional de Nozes e Frutas Secas, a Associação de Alimentos de Soja da América do Norte, o Instituto de Amendoim, e do Canadá a Kellog e a Quaker Oats.
  4. ACLM (Associação College of Lifestyle Medicine) está vinculada a Katz. Tem como parceiros a Plant Strong by Engine 2 e MamaSezz, ambas vendendo produtos vegetais. 
  5. Barnard disse em um documentário da NETFLIX que comer um ovo é o mesmo que fumar 5 cigarros. 
  6. A propagação do vegetarianismo é uma pauta global com ação de empresas, universidades e entidades como ONU e OMS. Há interesses econômicos óbvios e desinformação premeditada.
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